“Love Child” é a nova série do AXN White para o mês de maio. Com a promessa de conteúdo capaz de apresentar um retrato multifacetado da experiência feminina e da maternidade, esta produção dramática australiana filmada em Sydney recupera um dos eventos mais traumáticos na memória coletiva deste país.
Para ver, a partir de 12 de maio, às quartas-feiras pelas 21h25.
A HOMENAGEM A UMA GERAÇÃO CORAJOSA
Anunciada pela sua emissora original, a australiana “Nine Network”, como uma série apaixonante, capaz de elevar os espíritos e apelar a múltiplas gerações, “Love Child” foi criada com a promessa de honrar os compromissos e sacrifícios de muitas e muitos jovens na luta por um sistema mais justo. A série procura explorar uma nova etapa da jornada do país, com uma geração capaz de se revoltar contra dogmas perigosos.
No ponto inicial da história estamos em 1969 e faz-se a revolução sexual, como aliás em diversos outros pontos do globo. Na interceção do movimento de libertação da figura feminina, e no decurso de tumultos culturais, uma prática comum e obscura decorre de forma simultânea.
O ENREDO E A SUA FIGURA CENTRAL
O enredo acompanha a vida do staff e dos residentes do Hospital de Kings Cross (maternidade) e da Stanton House (residência para jovens grávidas), na Sydney de 1969. Não obstante a natureza fictícia do Hospital, os casos dramatizados têm muitos pontos de contacto com as vidas reais das australianas nos anos 1970.
Para lá da revolução musical, do movimento hippie e das manifestações anti-guerra, para lá das liberdades acrescidas e de um sentimento generalizado de fervor, esconde-se um preconceito longe de ultrapassado. Atrás dos portões do Hospital de Kings Cross, a experiência efusiva das ruas de Sydney é substituída por atentados às liberdades individuais de jovens mães.
A nossa protagonista, a enfermeira-parteira Joan Miller (Jessica Marais), é surpreendida por este contraste ao regressar à Austrália. Aqui descobre que é prática comum que jovens grávidas sejam escondidas em Stanton House, muitas vezes a mando das suas próprias famílias, para que ninguém saiba que tiveram sexo fora do casamento. Estes seus filhos ilegítimos, “love childs” (crianças da paixão ou do amor), serão entregues para a adopção quer as suas mães concordem ou não.
Joan e cinco destas jovens mães serão as protagonistas da história. Juntas procuram que esta prática reconhecida seja dada por terminada e lutam pela custódia das suas crianças. A série celebra a vida das mães que passaram por esta provação e festeja o amor nestes tempos atribulados.
O TRAUMA REAL QUE LANÇOU O MOTE PARA A FICÇÃO
“Love Child” pode ser uma história inteiramente imaginada, mas não deixa de se basear em factos bem comprovados. Inclusive, em 2013, a primeira-ministra da Austrália emitiu um pedido de desculpas público a todas as famílias que sofreram com este flagelo. Afinal, não era apenas a moralidade que impunha esta prática devastadora mas antes o próprio Governo.
Infelizmente uma ferida ainda aberta, com várias das mulheres vítimas deste sistema ainda vivas, é incómodo constatar que estes acontecimentos não se encontram num passado assim tão distante. Inclusive, o lançamento da série fez com que algumas das então jovens, várias delas adolescentes na época, partilhassem as experiências e maus tratos sofridos.
Retiradas das suas casas pela polícia, obrigadas a trabalhos forçados e privadas de contacto com o mundo exterior, as mulheres retratam agora estes locais como desprovidos de esperança, uma vez que o destino dos bebés seria sempre serem retirados.
Testemunhas defendem que a própria humilhação que sofreram acabou por comprometer para sempre a sua experiência da maternidade. Os laços afetivos com os seus filhos e filhas muitas vezes ficaram enfraquecidos, uma vez que não era incomum demorarem anos a encontrá-los.
Algumas parteiras recordaram também os eventos da série e as provações físicas pelas quais as mulheres passaram como verídicas. As próprias “love childs”, agora adultas, reconhecem as pesadas consequências que esta separação suscitou na sua socialização e desenvolvimento pessoal, até ao nível de bullying escolar por desconhecerem os pais.
“Love Child” coloca um holofote e dá renovada pertinência e atenção a este período complexo, celebrando o amor que une estas mães às suas crianças e ainda as paixões que deram origem a estes nascimentos.
Fá-lo celebrando um mundo cheio de cor e marcado por emoções fortes. O retrato de um mundo em transformação, no AXN White, todas as quartas-feiras às 21h25.